terça-feira, 27 de julho de 2010

XI FACE - Debate "Tudo a Fazer"

Sob coordenação do estudante de Artes Cênicas da UFMG, Arthur Diniz, conterrâneo dos valadarenses, aconteceu no dia 21 de julho, logo no primeiro dia da Fase Nacional do XI FACE, o debate "Tudo a Fazer" para traçar a realidade dos grupos de teatro do interior de Minas.

A realidade do teatro no interior de Minas Gerais é semelhante em todas as regiões aquém da região metropolitana de Belo Horizonte. Enfrentamos basicamente os mesmos problemas e dificuldades.

Eu também tive posse da palavra para descrever a realidade de Frei Inocêncio - cidade natal do Grupo Arte Fino - e transcrevendo, aqui, minha fala, penso estar resumindo todo o assunto debatido nesta reunião, tal a semelhança dos argumentos.

O Arte Fino nasceu em 2001 como um grupo de teatro escolar. Feito por alunos dentro das dependências da escola local. Recebiam orietação de um diretor mais experiente e montavam espetáculos na medida em que aperfeiçoavam suas habilidades artístico-teatrais.

Nos encontrávamos todos os finais de semana para ensaiar e aprender coisas novas (eu contava com 11 anos na época e já esboçava muita precossidade, principalmente em habilidades como dramaturgia e direção, fora a paixão pela interpretação). Mas éramos adolescentes (54 ao todo) e não possuíamos nenhuma obrigação que não fosse estudar.

Neste ponto começam grande parte dos problemas enfrentados por muitas cidades do interior mineiro: a formação de artistas que consideram o teatro um hobbie. Quando estes artistas, geralmente jovens, começam a crescer e a obter maiores responsabilidades o teatro será, lamentavelmente, uma das primeiras atividades e serem abdicadas (tal como acontece quando da necessidade de corte de custos no poder público. Vetar o apoio à cultura é a primeira ação para salvaguardar a saúde da economia). Tudo é motivo para abandonar o teatro: o fim do ensino médio; ingresso na faculdade; primeiro emprego; namoro... entre outros.

Onde estão aqueles que têm paixão pelo que fazem? Aqueles que aceitam os sacrifícios para manter contato com a arte? Onde estão aqueles que, como eu, acabaram o ensino médio, começaram a trabalhar, cursam a faculdade e ainda fazem teatro em duas cidades diferentes por é isso o que amam? Onde?

Estão por aí! Basta que os diretores saibam identificá-los. Geraldo Lafaiete - coordenador do FACE - frisou bastante a importância de selecionarmos melhor as pessoas que fazem teatro em nossos grupos, de sabermos quais "simplesmente fazem" e quais "absolutamente precisam" fazer teatro.

A indisciplina, a alta rotatividade e a dependência do diretor são características que assolam os grupos do interior. Tal quadro não será revertido enquanto os diretos não se propuserem a capacitar artistas visando sua autonomia. Não é dar o peixe, é ensinar a pescar.

Quando Fabio Sena não estiver mais à frente do Cenarte, este sobreviverá? Quando Geraldo Lafaiete não mais atuar na esfera teatral, a Casa do Teatro e os outros grupos sob sua direção andarão com as próprias pernas? A Trupe Teatral Pitaco, o Karicatura Teatral e o próprio Asa do Invento resistirá à ausência de Nazza Amaral? ...

O teatro mineiro (e eu estou incluído) esperamos que sim! Então que tenhamos mais cuidado com o tipo de formação que damos aos nossos jovens colegas de profissão. Para não nos encontrarmos na mesma situação deste grupo Arte Fino que, prestes a completar 10 anos de vida possui apenas 01 integrante (Maicon Martins), mas que não deixará de lutar pois sabe que sempre haverá alguém querendo ajudar de algum modo.

Realmente, estamos com "TUDO A FAZER"!

2 comentários:

  1. Se todos mantivermos essa mesma linha de raciocinio que você e Geraldo Lafaiete creio que perceberemos que realmente temos tudo a fazer!

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  2. Seria bom que os artistas da nova geraçao, como você Iara, se auto alimentassem da importância do trabalho que vocês estão se propondo a fazer. Queriam mesmo o teatro, lutem por ele, estudem-no, vivam-no. Pelo bem de todos e felicidade geral da nação: sejam "artistas".

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