terça-feira, 27 de julho de 2010

Pessoas ou coisas podem mudar o mundo, mas hoje nada aconteceu



Prêmio de Melhor Espetáculo Alternativo, Melhor Atriz (Ana Reis) e indicação para melhor Trilha Sonora, todos na fase nacional do XI FACE, o espetáculo Pessoas ou coisas podem mudar o mundo, mas hoje nada aconteceu vai navegar o imaginário dos espectadores por um bom tempo.

A história central poderia ser simples: um pai que abandona a mulher e uma filha ainda criança e, arrependido volta em busca de perdão. O estereótipo da família desestruturada dos tempos modernos é presente, mas teatralizada de forma apaixonante. A história central poderia ser simples...

Uma mãe completamente louca por organização, uma filha cheia de vontades e de personalidade forte, um pai volúvel e fracassado, e um quarto personagem - talvez o tempo ou a esperança, talvez nada disso ou ambos concomitantemente – conduzem a história. A desordem cronológica das cenas, a intensidade do trabalho de corpo (as repetidas quedas e autoflagelo da menina incomodaram a platéia, porém esta não as recebeu como violência, mas como caprichos pueris), a trilha composta de ruídos profundos que nos deixam a ponto de bala, tensos, ..., constroem um espetáculo envolvente e motivador.

- Essa história é minha!

Quaisquer dos espectadores poderiam, facilmente, se juntar à menina que afirma a posse da história. Qualquer um está fadado a sentir na pela o crash da estrutura familiar e se refugiar em lembranças dos tempos de outrora onde tudo era risos e afagos. “- Eu quero a minha lhama!”.

A lhama não era apenas “um camelo sem corcova que cuspia”. Era o pedaço do pai que ainda restava nela, a imagem da felicidade que ela desconhecia desde que ele partira. Ela não queria a lhama pura e simplesmente, queria que o encontro com esta a levasse ao pai. Ela tentava, mas hoje nada mudou.

Sem dúvida o melhor espetáculo em espaço alternativo do XI FACE, com um elenco bem ensaiado (ressalva para Sammer, ator que interpreta o pai, que quase é engolido pelos colegas de cena) e bem consciente corporalmente; não é difícil prever que no II PROFESTeatro que acontecerá em Congonhas-MG de 13 a 15 de agosto, assistiremos exatamente ao mesmo espetáculo, quase que milimetricamente coreografado.

Parabéns à trupe. Ver-nos-emos no solo dos Profetas de Aleijadinho.

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