domingo, 4 de julho de 2010

O MORTO VIVO


Neste fim de semana, 03 e 04 de julho de 2010, foi a vez da Companhia Katarriso de Teatro mostrar a que veio na esfera teatral valadarense, apresentando o espetáculo O Morto Vivo.

Uma comédia familiar por deveras atraente devido à natureza sutil de mostrar o cotidiano. Chafurdamo-nos na rotina a tal ponto que nossas existências dependem de protocolarmos até mesmo as tarefas mais exíguas do devir, do vir a ser parmenidiano. Não temos segurança naquilo o que é nosso se tudo o que nos cerca - objetos, bens, memórias, pessoas... - não nos vier com a posse comprovada através de documentos e papéis, que, infelizmente, valem mais que nossa palavra.

Heitor Ferreira (Jean Carlos), personagem principal da trama, não vivia! O contato carnal com sua esposa, os trejeitos puerís e a carência afetiva não diziam nada ante os persuasivos documentos apresentados à sua esposa pelo Secretário do Setor de Sinistro da Marinha.

- Seu marido está morto! Tenho este documento que assegura sua morte.

A burocracia é tão forte quanto nossa servidão e dependência dela. Quem somos hoje em dia? Existimos fora os números de nosso RG e CPF? Os padrões alfa-numéricos, que, em tese, deveriam nos trazer equivalência ante as esferas do poder público, seja municipal, estadual ou federal apenas nos condenam a abrir mão do bem mais precioso que recebemos: o livre arbítrio. Heitor não tinha escolha quanto ao seu destino, estava morto e apenas ressuscitaria se a burocracia que dantes o matou assim o desejasse.

Cenas rápidas, texto inteligente e afiado, piadas provocantes nada previsíveis, cenário suntuoso que reproduzia fielmente uma sala da classe média alta, desde o piso de taco aos quadros de Leonardo da Vinci; trilha sonora (que transitava dos Beatles à música unchained melody, eternizada como tema do filme Ghost de Jerry Zucker) e figurinos que abrilhantavam a estética que vinha da produção (nota-se pela qualidade do folder disponibilizado, contendo desde a discriminação dos personagens à trajetória da companhia, passando pela sinopse) que denota um amadurecimento profissional na produção artística local.

Peço atenção ao trabalho com os atores coadjuvantes. O rigor técnico da interpretação destes estava inversamente proporcional aos dos atores protagonistas. Salvaguardo o comentário à atriz Gislene Martins cujas falhas e insegurança é perfeitamente justificável pela tempestividade com que recebeu o papel. Abro parentese para a fatalidade que ocorreu com a atriz Ana Márcia que faria a personagem Glória Ferreira (protagonista, esposa de Heitor) e, no dia da estreia perdeu o pai.

Nossas condolências.

Luto real por falso luto teatral fica este trágico episódio como experiência para a companhia caracterizada por seus elencos numerosos e por suas plateias lotadas a sempre dispor de atores/atrizes no posto de coringa.

No mais, Parabéns pelo espetáculo! e esperamos ansiosos pela nova empreitada com o lendário personagem Ed Mort criado por Luis Fernando Veríssimo como paródia das histórias norte-americanas de detetives. Nos dias 25 e 26 de setembro a companhia volta com o espetáculo: Ed Mort: conexão nazista.

Não perderemos por esperar.

4 comentários:

  1. bom ver ,ser e ter a cia katarriso em minha vida e maramilhosooo e participar desse espetaculo foi otimo nos sempre buscamos melhorar e mais uuma vez nos superamos e conseguimos o maior dos premios que é o reconhecimento de nosso publico afinal temos essa paixão por esta arte mais fazemos isso tbm com todo carinha por estas pessoas que sempre nos pretigiam bastante vle katarrentossssssssssss !!!!!!!

    ResponderExcluir
  2. Parabéns!
    Ótima análise teatral/técnica/antropológica!

    Faço parte da Companhia e fico feliz em ver que conseguimos passar, mesmo em detalhes sutis (de história/cenário/interpretação), o humor e a reflexão que propomos.

    E ressalto, como foi dito, a busca pela profissionalização artística local (este blog se inclui), e o consequente amadurecimento do público valadarense.

    Que abram as cortinas!

    ResponderExcluir
  3. É mto gratificante saber que msm,com tds os contratempos,conseguimos superar e nos manter fortes transmtindo alegria a tds...
    Estou mto feliz em estar nessa companhia...e isso me realiza...Valeu galera...obrigada por estarem sempre presente!!

    ResponderExcluir
  4. Que coisa boa ler relatos tão apaixonados de membros do grupo Katarriso, mostra que o que vocês fazem transcende a barreira do "atuar oura e simplesmente", vocês se doam à arte de emocionar.
    Preocupar-se com a qualidade da informação que a plateia recebe é honroso.
    Como vocês disseram:
    - Isso me realiza... (kassandra)
    - (...) conseguimos passar o humor e a reflexão que propomos. (Daniel Marinho)
    - Conseguimos o maior dos prêmios que é o reconhecimento do nosso publico. (Diego Teixeira)...

    O que há mais a ser dito?
    Parabéns, o amor de vocês pelo que fazem contagia... e isso é muito bom.

    ResponderExcluir