quinta-feira, 29 de julho de 2010

Mulher de Faces


Às 21h00, excluindo-se os costumeiros atrasos de um festival de teatro marcado pela numerosa programação, do dia 21 de julho, no Teatro Municipal deu início ao espetáculo “Mulher de Faces”, do grupo Asas do Invento, de Governador Valadares.

Com direção de Marcos Nauer, a peça conta a história, não de duas mulheres, mas de todas. As atrizes emprestam seus corpos para personagens dos mais variados, não mantendo nenhum deles por mais de uma cena.

Princesas, tecelãs, mulheres modernas, sonhadoras, mulheres, todas ligadas à existência fadada à sombra do homem. O texto também é variado. Logo na abertura nos deparamos com Adélia Prado em seu “Com licença poética”, passamos por Júlia Lopez de Almeida (Conto do Sino de Ouro), entre outros textos, até pousarmos na segunda metade onde impera a comicidade de textos rápidos e provocativos. Quase uma compilação das melhores piadas que bombardeiam nossas caixas de e-mail.

A trilha sonora é ao vivo, o que rendeu ao espetáculo a indicação de melhor trilha sonora na categoria drama nacional. Um excelente voz e violão executado por Lorena Arruda, que tem seu ápice ao cantar, à capela, The man I love (composição de Ira Gershwin, eternizada nas vozes de Billie Holiday e Sarah Vaughan), momento que marca a transição entre o drama e a comédia. Cena de arrepiar.

O trabalho de atriz de ambas está maravilhoso. Os olhos de Fabiani Torres na cena da brincadeira de esconde-esconde nos transporta à própria infância, sentimos o calor dos braços maternos; por outro lado, é impossível não rir do sapo de Nazza Amaral, ou se emocionar na cena do trovador que assassina a própria mãe, arranca-lhe o coração e o perde.

Talvez faltasse mais jogo cênico que unisse de alguma as atrizes. Que nos fizesse sentir num espetáculo único, e não em dois monólogos concomitantes ocupando o mesmo palco (sensação levemente alcançada no desenrolar da trama).

Um belo espetáculo, merecedor de mais indicações e alguns prêmios neste XI FACE.

Vem, vamos embora! Que esperar não é saber – XI FACE


Dia 23 de julho aconteceu uma passeata meio protesto, meio desfile, nas ruas lafaietenses. A concentração dos artistas foi na praça Pimentel Duarte. Todos foram convidados a participar com fantasias, instrumentos, carros, bicicletas, pernas-de-pau e muita vontade de fazer barulho!

Às 14h00 a passeata saiu pelas ruas rumo à praça Madre Tereza Michael Grillo, obedecendo ao seguinte trajeto: Ruas Homero Seaba, Melo Viana, Afonso Pena, praça Tiradentes, praça Barão de Queluz e praça Madre Tereza Michael Grillo.

Todos estávamos animados. Cantávamos especialmente as cantigas populares das brincadeiras de roda. Caracterizados, éramos palhaços inocentes e felizes ansiosos por mostrar ao mundo que existíamos e que queríamos a preservação da nossa arte, do nosso espaço. Paramos as ruas por que passamos e demos nosso recado.

O auge da passeata deu-se quando todos cantamos em uníssono o emocionante refrão da canção “Para não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré, que também foi o tema da 11ª edição do FACE: VEM, VAMOS EMBORA! QUE ESPERAR NÃO SABER... quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Pêlos arrepiados, olhos molhados, coração acelerado, o teatro estava lá, presente!

Sem dúvida um dos momentos chave deste festival.

Evoè Baco!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Desfile das delegações e das bandeiras - Abertura do XI FACE


A abertura popular da fase Nacional do XI FACE, com participação das delegações e grupos culturais, aconteceu no dia 21 de julho, com partida no Coreto da Praça Tiradentes. A caminhada seguiu às 15h30 pela Avenida Mário Rodrigues até o Teatro Municipal Placedina de Queirós.

Já no teatro, todas as delegações com suas bandeiras a postos, desfilaram o orgulho de estarem representando não apenas o teatro no sentido lato, mas especificamente o teatro feito em sua cidade (com os limites e oportunidade impostos pela sua realidade).

Algumas delegações viajaram 16 horas para estarem lá, como aconteceu com o grupo T.A.P.A. (Todos amando pela arte) da cidade de Taquaritinga-SP. A delegação valadarense viajou cerca de 10 horas e não deixou de emocionar. “- Eu quase chorei quando vi o Lucas (Karicatura Teatral) entrar com a bandeira de Governador Valadares” confessou Nazza Amaral dois dias após a solenidade de abertura.

A bandeira de Frei Inocêncio também estava lá, tremeluzente e feliz de poder desenhar também as personas do teatro no brasão municipal, ao lado do boi e da Serra do Paiol. Parabéns às delegações que abrilhantaram o evento, que nos trouxeram um pouco da sua cultura e levaram muito da nossa.
Afinal, este foi o festival da Dona Aranha!

terça-feira, 27 de julho de 2010

Pessoas ou coisas podem mudar o mundo, mas hoje nada aconteceu



Prêmio de Melhor Espetáculo Alternativo, Melhor Atriz (Ana Reis) e indicação para melhor Trilha Sonora, todos na fase nacional do XI FACE, o espetáculo Pessoas ou coisas podem mudar o mundo, mas hoje nada aconteceu vai navegar o imaginário dos espectadores por um bom tempo.

A história central poderia ser simples: um pai que abandona a mulher e uma filha ainda criança e, arrependido volta em busca de perdão. O estereótipo da família desestruturada dos tempos modernos é presente, mas teatralizada de forma apaixonante. A história central poderia ser simples...

Uma mãe completamente louca por organização, uma filha cheia de vontades e de personalidade forte, um pai volúvel e fracassado, e um quarto personagem - talvez o tempo ou a esperança, talvez nada disso ou ambos concomitantemente – conduzem a história. A desordem cronológica das cenas, a intensidade do trabalho de corpo (as repetidas quedas e autoflagelo da menina incomodaram a platéia, porém esta não as recebeu como violência, mas como caprichos pueris), a trilha composta de ruídos profundos que nos deixam a ponto de bala, tensos, ..., constroem um espetáculo envolvente e motivador.

- Essa história é minha!

Quaisquer dos espectadores poderiam, facilmente, se juntar à menina que afirma a posse da história. Qualquer um está fadado a sentir na pela o crash da estrutura familiar e se refugiar em lembranças dos tempos de outrora onde tudo era risos e afagos. “- Eu quero a minha lhama!”.

A lhama não era apenas “um camelo sem corcova que cuspia”. Era o pedaço do pai que ainda restava nela, a imagem da felicidade que ela desconhecia desde que ele partira. Ela não queria a lhama pura e simplesmente, queria que o encontro com esta a levasse ao pai. Ela tentava, mas hoje nada mudou.

Sem dúvida o melhor espetáculo em espaço alternativo do XI FACE, com um elenco bem ensaiado (ressalva para Sammer, ator que interpreta o pai, que quase é engolido pelos colegas de cena) e bem consciente corporalmente; não é difícil prever que no II PROFESTeatro que acontecerá em Congonhas-MG de 13 a 15 de agosto, assistiremos exatamente ao mesmo espetáculo, quase que milimetricamente coreografado.

Parabéns à trupe. Ver-nos-emos no solo dos Profetas de Aleijadinho.

XI FACE - Debate "Tudo a Fazer"

Sob coordenação do estudante de Artes Cênicas da UFMG, Arthur Diniz, conterrâneo dos valadarenses, aconteceu no dia 21 de julho, logo no primeiro dia da Fase Nacional do XI FACE, o debate "Tudo a Fazer" para traçar a realidade dos grupos de teatro do interior de Minas.

A realidade do teatro no interior de Minas Gerais é semelhante em todas as regiões aquém da região metropolitana de Belo Horizonte. Enfrentamos basicamente os mesmos problemas e dificuldades.

Eu também tive posse da palavra para descrever a realidade de Frei Inocêncio - cidade natal do Grupo Arte Fino - e transcrevendo, aqui, minha fala, penso estar resumindo todo o assunto debatido nesta reunião, tal a semelhança dos argumentos.

O Arte Fino nasceu em 2001 como um grupo de teatro escolar. Feito por alunos dentro das dependências da escola local. Recebiam orietação de um diretor mais experiente e montavam espetáculos na medida em que aperfeiçoavam suas habilidades artístico-teatrais.

Nos encontrávamos todos os finais de semana para ensaiar e aprender coisas novas (eu contava com 11 anos na época e já esboçava muita precossidade, principalmente em habilidades como dramaturgia e direção, fora a paixão pela interpretação). Mas éramos adolescentes (54 ao todo) e não possuíamos nenhuma obrigação que não fosse estudar.

Neste ponto começam grande parte dos problemas enfrentados por muitas cidades do interior mineiro: a formação de artistas que consideram o teatro um hobbie. Quando estes artistas, geralmente jovens, começam a crescer e a obter maiores responsabilidades o teatro será, lamentavelmente, uma das primeiras atividades e serem abdicadas (tal como acontece quando da necessidade de corte de custos no poder público. Vetar o apoio à cultura é a primeira ação para salvaguardar a saúde da economia). Tudo é motivo para abandonar o teatro: o fim do ensino médio; ingresso na faculdade; primeiro emprego; namoro... entre outros.

Onde estão aqueles que têm paixão pelo que fazem? Aqueles que aceitam os sacrifícios para manter contato com a arte? Onde estão aqueles que, como eu, acabaram o ensino médio, começaram a trabalhar, cursam a faculdade e ainda fazem teatro em duas cidades diferentes por é isso o que amam? Onde?

Estão por aí! Basta que os diretores saibam identificá-los. Geraldo Lafaiete - coordenador do FACE - frisou bastante a importância de selecionarmos melhor as pessoas que fazem teatro em nossos grupos, de sabermos quais "simplesmente fazem" e quais "absolutamente precisam" fazer teatro.

A indisciplina, a alta rotatividade e a dependência do diretor são características que assolam os grupos do interior. Tal quadro não será revertido enquanto os diretos não se propuserem a capacitar artistas visando sua autonomia. Não é dar o peixe, é ensinar a pescar.

Quando Fabio Sena não estiver mais à frente do Cenarte, este sobreviverá? Quando Geraldo Lafaiete não mais atuar na esfera teatral, a Casa do Teatro e os outros grupos sob sua direção andarão com as próprias pernas? A Trupe Teatral Pitaco, o Karicatura Teatral e o próprio Asa do Invento resistirá à ausência de Nazza Amaral? ...

O teatro mineiro (e eu estou incluído) esperamos que sim! Então que tenhamos mais cuidado com o tipo de formação que damos aos nossos jovens colegas de profissão. Para não nos encontrarmos na mesma situação deste grupo Arte Fino que, prestes a completar 10 anos de vida possui apenas 01 integrante (Maicon Martins), mas que não deixará de lutar pois sabe que sempre haverá alguém querendo ajudar de algum modo.

Realmente, estamos com "TUDO A FAZER"!

domingo, 18 de julho de 2010

Vaca Louca - a reconstituição de um crime



"VACA LOUCA – a reconstituição de um crime" é uma peça baseada na vida de muitos artistas que vivem frustados por desempenharem carreiras profissionais impostas por outrem, geralmente os pais, mas detestável em seu próprio consentimento.

Vaca Louca – a reconstituição de um crime conta a história de Clóvis, um enfermeiro psiquiátrico que mata os loucos subordinados aos seus cuidados e, depois de preso, volta ao hospício para uma reconstituição do crime cometido. Entremeio à revelação dos motivos que o levou a cometer tais assassinatos, as histórias pessoais de cada um dos loucos é exposta de forma cômica e sutil; mostrando que a capacidade de amar transcende até mesmo os padrões de sanidade mental impostos pela sociedade.

Uma comédia hilariante e inteligente, escrita e atuada por Maicon Martins, direção de Arthur Diniz, que narra o crime cometido em um hospício por motivos que vão de encontro à descoberta do verdadeiro “eu” do assassino. O que é loucura? O que é amor? O que é liberdade? … são algumas da questões tratadas nesta requintada comédia.

Os créditos do espetáculo se estendem a outros artistas que aceitaram de bom grado participar da concretização deste trabalho: Bruno Pimenta (que assina a iluminação, ao centro na imagem abaixo), Aline Torres (maquiagem e auxílio na sonoplastia, à direita na imagem abaixo) e Tiago Henrique dando suporte em cena e na operacionalizalição do espetáculo. Obrigado a vocês.


O espetáculo participou da edição 2010 da Campanha de Popularização do Teatro de Governador Valadares e se prepara para participar, no próximo dia 21 de julho, do XI FACE - Festival de Artes Cênicas de Conselheiro Lafaiete.

Sucesso!

Artistas valadarenses brilham como jurados no XI FACE

No último dia 16 de julho deu início o XI FACE - Festival de Artes Cênicas de Conselheiro Lafaiete-MG. Como de costume, o festival é divido entre as etapas Regional (de 16 a 20 de julho) e Nacional (21 a 25 de julho).

A etapa nacional do maior festival de teatro do interior mineiro contará com a participação recorde de grupos valadarenses. Serão eles:
  • Arte Fino (Vaca Louca - a reconstituição de um crime)
  • Atrás do Palco (Chapéu de chuva da saudade)
  • Asas do Invento (Mulher de Faces)
  • Trupe Teatral Pitaco (Saltimbancos)
  • Reflexus (Difícil vida fácil)
  • Babacobaco Produções (Elas são do Balacubaco)

Mas, antes de começar a etapa nacional, dois artistas valadarenses já brilham na etapa regional, como jurados.

Aline Torres (Cia de Artes Atrás do Palco, à direita na imagem) e Arthur Diniz (Trupe Teatral Pitaco, ao centro) foram convidados a assumir o difícil papel de julgar os espetáculos regionais. Aceitaram a responsabilidade, não apenas de dar nota nas diversas categorias, mas de ajudar aos membros das companhias julgadas a perceber a situação atual das montagens. Opiniões são sempre bem-vindas e quando proferidas por pessoas que detêm o conhecimento técnico necessário para ter credibilidade as coisas ficam ainda melhores.

Não cabe aos jurados determinar o que é certo ou errado, o que é bom ou ruim... estes paradoxos não existem no fazer teatral. Cabe ao jurado a iniciativa de quantificar e denominar as escolhas cênicas (de direção, maquiagem, figurino, trilha sonora, etc.) mais engrandeceram a montagem como um todo; premiar as escolhas que mais "deram certo" e ajudar aos demais direcionando-os aos pontos que mais necessitam de atenção.

Parabéns aos nossos conterrâneos que, mesmo com pouca idade (o que não limita a qualidade crítica que possuem, e a que recorrerão na análise de cada espetáculo) fazem jus ao nome da cidade de Governador Valadares.

Ver-nos-emos na etapa nacional.

Evoé Baco.

domingo, 4 de julho de 2010

inFORMAÇÃO - formAÇÃO - AÇÃO


É bom ver como o diálogo do fazer artístico já começa a surgir com o pouco tempo de vida deste blog. No post chamado "Pão com Salame e Refrigerante" o artísta Clênio Magalhães (cleniomagalhaes.blogspot.com) colocou o seguinte e maravilhoso comentário, que transcrevo por acreditar que merecia um post. Logo em seguida transcrevo minha resposta, que também foi enviada como comentário deste mesmo post:


Meu caro Maicon, sem falar na quantidade de artistas que se vêem obrigados a deixarem seus lares, sua terra natal, em busca de mais reconhecimento do seu trabalho. Quantos artistas valadarenses estão fora hoje? Pare para contar... é muita gente. Não vou dizer aqui para não ser indiscreto. Chegamos num momento de necessidade de outra alternativa além das leis de incentivo e da licenciatura. Até quando continuaremos tão desconectados do Ministério do Trabalho? Quantas carteiras profissionais de artistas estão assinadas hoje no nosso país? Muito menos do que a quantidade de artistas autônomos que lutam por não deixarem morrer suas profissões.

A Cultura ocupa uma posição entre os 24 MINISTÉRIOS do nosso poder executivo, em 2006 o IBGE junto ao MINC já constataram a existência de 320 mil empresas culturais no Brasil que geram 1,6 milhão de empregos formais, 4% dos postos de trabalho brasileiros. Por que continuamos a receber 0,2% dos 500 a 600 bilhões de reais destinados ao Poder Executivo?

Por falta de sensibilidade social, os artistas deverão cada dia mais, trocar seus laboratórios de criação por escritórios, no dever de prezar pela dignidade de seus companheiros e futuras gerações?Enquanto me deparo com inúmeras respostas banais e até agressivas para esta pergunta, permanecerei defendendo a produção artística como parceira da educação, da saúde, do serviço social e tantos outros departamentos que volta e meia recorrem aos agentes culturais para implementarem projetos de temas transversais.

Sabemos o quanto a arte é útil ao nosso corpo, à nossa mente, aos nossos laços sociais por estarmos dentro. E com a fé inabalável dos sentidos, continuemos gritando aos quatro cantos: Evoé! Pois em meio a tanto ruído do "progresso", quem não gritar não será ouvido.Abraços!



Dando prosseguimento ao diálogo, escrevo:


Caro Clênio,

É tudo um mar de cruéis verdades. Uma das causas para esta tão grande discrepância pode se dar ao fato de que quem administra a cultura, hoje e na grande maioria das vezes, são os próprios artistas, que nem sempre, ou quase nunca buscam embasamento teórico para o ato de se organizar e/ou se mobilizar para determinado fim.

Sem administração (entenda-se pelo conceito de se organizar a fundo, por meio de planejamento estratégico, fluxograma, conceitos de controle, implantação do sistema da qualidade total... um mundo de possibilidades desconhecidas por muitos artistas), sem isso é difícil progredir.

Não vivemos mais na época do teatro puramente mambembe e descompromissado. Ele não pode morrer; mas em tese ele não se enquadra mais à dinâmica do nosso mundo contemporâneo. Não somos artesãos de nossas vidas: somos engenheiros delas!

O sucesso só virá por este “terceiro caminho”, excluindo as leis de incentivo e a licenciatura que você citou, quando cada artista autônomo tiver enraizado dentro de sua mente que ele, enquanto profissional, é sozinho toda uma empresa. E que o bom uso de suas ferramentas de trabalho (seu corpo, sua mente, seu talento, seu existir) é que lhe garantirão sucesso.

Gritaremos e adentraremos nesta nova era da "Gestão Cultural" da "Economia da Cultura" e outros conceitos tão tardios para muitos e tão "a calhar" para outros, mudaremos este quadro... com informação e formação e ação.Mas jamais deixaremos de gritar: EVOÉ!

O MORTO VIVO


Neste fim de semana, 03 e 04 de julho de 2010, foi a vez da Companhia Katarriso de Teatro mostrar a que veio na esfera teatral valadarense, apresentando o espetáculo O Morto Vivo.

Uma comédia familiar por deveras atraente devido à natureza sutil de mostrar o cotidiano. Chafurdamo-nos na rotina a tal ponto que nossas existências dependem de protocolarmos até mesmo as tarefas mais exíguas do devir, do vir a ser parmenidiano. Não temos segurança naquilo o que é nosso se tudo o que nos cerca - objetos, bens, memórias, pessoas... - não nos vier com a posse comprovada através de documentos e papéis, que, infelizmente, valem mais que nossa palavra.

Heitor Ferreira (Jean Carlos), personagem principal da trama, não vivia! O contato carnal com sua esposa, os trejeitos puerís e a carência afetiva não diziam nada ante os persuasivos documentos apresentados à sua esposa pelo Secretário do Setor de Sinistro da Marinha.

- Seu marido está morto! Tenho este documento que assegura sua morte.

A burocracia é tão forte quanto nossa servidão e dependência dela. Quem somos hoje em dia? Existimos fora os números de nosso RG e CPF? Os padrões alfa-numéricos, que, em tese, deveriam nos trazer equivalência ante as esferas do poder público, seja municipal, estadual ou federal apenas nos condenam a abrir mão do bem mais precioso que recebemos: o livre arbítrio. Heitor não tinha escolha quanto ao seu destino, estava morto e apenas ressuscitaria se a burocracia que dantes o matou assim o desejasse.

Cenas rápidas, texto inteligente e afiado, piadas provocantes nada previsíveis, cenário suntuoso que reproduzia fielmente uma sala da classe média alta, desde o piso de taco aos quadros de Leonardo da Vinci; trilha sonora (que transitava dos Beatles à música unchained melody, eternizada como tema do filme Ghost de Jerry Zucker) e figurinos que abrilhantavam a estética que vinha da produção (nota-se pela qualidade do folder disponibilizado, contendo desde a discriminação dos personagens à trajetória da companhia, passando pela sinopse) que denota um amadurecimento profissional na produção artística local.

Peço atenção ao trabalho com os atores coadjuvantes. O rigor técnico da interpretação destes estava inversamente proporcional aos dos atores protagonistas. Salvaguardo o comentário à atriz Gislene Martins cujas falhas e insegurança é perfeitamente justificável pela tempestividade com que recebeu o papel. Abro parentese para a fatalidade que ocorreu com a atriz Ana Márcia que faria a personagem Glória Ferreira (protagonista, esposa de Heitor) e, no dia da estreia perdeu o pai.

Nossas condolências.

Luto real por falso luto teatral fica este trágico episódio como experiência para a companhia caracterizada por seus elencos numerosos e por suas plateias lotadas a sempre dispor de atores/atrizes no posto de coringa.

No mais, Parabéns pelo espetáculo! e esperamos ansiosos pela nova empreitada com o lendário personagem Ed Mort criado por Luis Fernando Veríssimo como paródia das histórias norte-americanas de detetives. Nos dias 25 e 26 de setembro a companhia volta com o espetáculo: Ed Mort: conexão nazista.

Não perderemos por esperar.

Pão com Salame e Refrigerante


Durante as sessões do curso de treinamento no Edital de Seleção dos Pontos de Cultura do Município de Governador Valadares-MG, uma questão foi muito bem discutida. E nem dizia respeito diretamente à pauta do treinamento.

O descaso para com o profissional artista é gritante, ainda mais nos arredores do Pico da Ibituruna.

É um axioma no meio cultural contemporâneo o seguinte quadro: hodiernamente os artistas (seja do teatro, dança, música, etc.) devem tratar a sua paixão como um hobby, uma vez que precisam se alimentar, sustentar uma família, pagar suas contas... e a prestação de serviços culturais que eles praticam, nas horas vagas, não lhes fornece teto suficiente. Tal fato compromete a qualidade de seu trabalho.

O ideal seria que o artista por vocação investisse todo o seu tempo na produção de obras culturais cada mais trabalhadas, com exímia qualidade técnica e conceitual. A prática, pesquisa, experimentação, construção, produção e vivência artística alcançariam um nível profissional e estético altamente embasado. Só que o artista não dispõe de tempo para se dedicar, ele está ocupado demais em seus empregos maçantes que lhe afastam de seus sonhos.

O representante da capoeira em Valadares, Nelson Nielson, lembrou bem uma realidade vivida por entidades artísticas como a Banda Lira 30 de Janeiro: As organizações da cidade aindam convidam e contratam os serviços da Banda oferecendo, em contrapartida, um lanche à base de pão com salame e refrigerante.

O artista não precisa mendigar pão com salame ou qualquer outra fonte de alimentação. Que sejam servidos lanches como complemento e agrado aos prestadores de serviços. Artista, como qualquer outro profissional, vive de dinheiro.

Ninguém oferece pão com salame ao contador que lhe presta serviços contábeis, nem ao advogado que lhe defende ante a justiça.

Tem que se acabar com essa imagem do artista como aquele que porpõe entretenimento como se por trás disso não estivesse horas de trabalho árduo e relação de erros-acertos.

O artista que precisa definhar em trabalhos não-artísticos para sobreviver não deve ser cobrado de maestria profissional. Não é culpa dele se a sociedade empresarial não lhe fornece outra alternativa.

Ou é o pão com salame e refrigerante ou é trabalho de qualidade: qual você escolhe?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Aberto Edital para Ponto de Cultura


Foi publicado no dia 22 de junho de 2010, no Diário do Rio Doce, o Edital 002 - de Seleção de Pontos de Cultura do Município de Governador Valadares.

Esse edital tem por objetivo apoiar por meio de repasse de recursos financeiros do Programa Mais Cultura - Pontos de Cultura para a concretização de projetos de fomento e formação artístico-cultural da sociedade, principalmente aquele em situação de vulnerabilidade social.

Podem participar quaisquer instituições da sociedade civil sem fins lucrativos e de caráter cultural (que conste no estatuto da entidade). Podem concorrer: Associações, Sindicatos, Cooperativas, Grupos de teatros e etc. É necessária a comprovação de, pelo menos, dois anos de atuação no município. Toda a documentação deverá estar em dia. O edital pode ser "baixado" no site da prefeitura municipal: http://www.valadares.mg.gov.br/.

Aos interessados será oderecido um cursinho preparatório sobre o edital, que acontecerá no 3º andar da Secretaria de Municipal de Cultura, Esporte e Lazer - SMCEL, nas seguintes datas e horários:

Dia 01º de julho (quinta-feira) - das 18h00 às 21h00.
Dia 02 de julho (sexta-feira) - das 18h00 às 21h00.
Dia 03 de julho (sábado) - das 08h30 às 12h00 e 13h30 às 18h00.
Dia 04 de julho (domingo) - das 08h30 ás 12h00.

Serão 05 projetos aprovados focando na diversidade cultural existente no município. Dipostos, geograficamente, segundo o mapa abaixo: